Quando a mentira é a única saída para o entrevistado

25 de setembro de 2017
Quando a mentira é a única saída para o entrevistado

Você já parou para pensar que em uma entrevista investigativa com um suspeito de fraude ou assédio, a mentira é a saída mais racional que ele tem para utilizar? O que você faria no lugar dele?

Não diga que você falaria a verdade de imediato, pois é o menos provável a fazer já que você se colocaria em uma situação de risco.

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Em mais de dezessete anos de carreira em compliance, conduzindo entrevistas tanto na iniciativa pública quanto privada, os sócios Mario Junior e Renato Santos, não registraram sequer 10 entrevistados que confessaram suas atitudes de imediato, na primeira uma hora e meia de entrevista. Você imagina o por quê?

Basicamente, existem 3 fatores que explicam o porquê da mentira ser a saída mais racional para o entrevistado:

  • 1º FATOR: o simples fato de que não faz parte da natureza humana criar provas contra si ou assumir algo que lhe trará consequências, sem ao menos tentar escapar da situação. Faz parte do processo de obtenção da verdade e, por consequência, da admissão da culpa, o entrevistado passar pelo ato de mentir para ter a sensação que tentou escapar e se defender e, assim, não contrariar a natureza humana que é de não se auto incriminar.
  • 2º FATOR: a impunidade corporativa. Muitas empresas brasileiras preferem não realizar uma investigação interna detalhada quando se deparam com casos de fraude e assédio. Há uma tendência de resolver logo a situação, demitindo o suspeito com todos os direitos trabalhistas, sob a alegação antiquada que, por mais que se obtenha evidências, provas e a confissão por escrito do suspeito, a Justiça do Trabalho será à favor do colaborador. Desta forma, o fraudador/assediador racionaliza seus atos com os questionamentos:
  1. Por que vou assumir a culpa deste ato de fraude ou assédio
  2. Qual é a vantagem que tenho?
  3. Todo mundo que comete fraude ou assédio aqui na empresa é demitido com todos os direitos, então por que vou me expor?
  • 3º FATOR: e talvez o que mais pesa contra o sucesso da entrevista investigativa é abordagem policialesca. Quando utilizada pelos entrevistadores, demonstra uma postura focada na pressão e ameaça ao entrevistador, caso não fale a verdade rapidamente. Ao utilizar essa abordagem, tende a explorar o lado “Fraudador”, que é pessoa que trapaceia, já enganou a empresa e não falará a verdade. E o mais importante dessa entrevista é avaliar o fator humano, ou seja, as principais causas que levaram o indivíduo a tomar uma decisão considerada antiética pelo código de conduta da empresa.

Estes três fatores formam uma equação difícil de ser resolvida pelos entrevistadores, pois soma-se ao contexto da empresa a premiação dos fraudadores com a Impunidade Corporativa.

Se o entrevistador não estiver capacitado com treinamentos específicos, tende a tratar o entrevistado como uma pessoa ruim e que não merece nenhum tipo de consideração. Utilizará do “poder” de ameaças e não apontará um caminho alternativo para amenizar as consequências do fraudador.

A Metodologia da Entrevista Investigativa Moderna, criada pela S2 consultoria, utiliza uma abordagem totalmente contrária a abordagem convencional.

Conheça os 3 mitos da Entrevista Investigativa:

  • 1º mito: mentir é feio. Todo ser humano mente e aceitar isso nos fará compreender melhor as razões do porquê o entrevistado está mentindo. A mentira é algo amplamente aceitável e esperado por parte do entrevistado no início da entrevista. Ao identificar as mentiras, procure evitar outras reações que não a de entendê-la como normal, além de mostrar entendimento, não criticar e nem mesmo confrontar o entrevistado. Essa postura demonstra que o entrevistado e entrevistador são pessoas iguais e passíveis de cometer erros, o que diminui a vergonha por parte do fraudador. Se bem conduzida, a entrevista deixa de ser uma relação de caça e caçador, pois o entrevistador está buscando minimizar as consequências e não ter o entrevistado como um troféu.
  • 2º mito: fazer pressão e ameaça para obter a confissão. Se você fizer esse exercício com um animal, perceberá que ao se sentir ameaçado e em perigo ele foge ou ataca. Com o ser humano não será diferente, por isso, evite essa abordagem agressiva, que não releva o fator humano nessa situação.
  • 3º mito: o fraudador é um delinquente. Tenha calma e planejamento ao lidar com entrevistas investigativas e faça o exercício da empatia. A pessoa não é fraude, apenas a cometeu. Saiba dissociar esses dois pontos. E mais, imagine que alguns fatores poderiam ter levado você a determinada atitude antiética, se você estivesse passando pelo mesmo contexto de vida, necessidades e circunstâncias que o fraudador. Humanize a situação para que o fraudador se arrependa e confesse. Fazer o exercício da Empatia não significa dizer que você irá se comover com a história do entrevistado e dar uma espécie de “desconto” e sim, que você o entende e está sendo acolhedor, mas que haverá alguma consequência.

Com uma postura adequada, o entrevistador age como uma pessoa que está fazendo o seu trabalho, e não que está julgando alguém. Entendido os porquês da fraude, entrevistador e entrevistado poderão gerenciar as consequências junto a empresa e, talvez, ter algum tipo de minimização de impacto devido à colaboração na confissão.

Facilitador: Renato Santos

Idealizador do método Pentágono da Fraude, desenvolvido como Tese de Doutorado em Administração pela PUC-SP. Sua experiência na área de Compliance vem de diversas organizações, há mais de 15 anos. É professor, colunista e autor do livro “Compliance Mitigando Fraudes Corporativas”, premiado pelo Instituto Ethos e CGU.